O sonho da escola bilíngue não se restringe aos expendiosos colégios particulares. A Prefeitura do Rio conta hoje com 10 unidades bilíngues, espalhadas pela cidade, inclusive em áreas conflagradas, como o Complexo do Alemão. E é na Escola Municipal Professor Afonso Várzea que a estudante Nicole Marcelino Salviano, de 10 anos, aluna do 5º Ano, vê o seu futuro cada vez mais ganhar realidade: ser professora de inglês.
– Sempre gostei muito de inglês. Estudar em uma escola bilíngue me dá ainda mais experiência no idioma. Adoro quando as aulas incluem músicas e trabalhos especiais. Meu sonho é ser professora de inglês. O que estou aprendendo aqui vai me ajudar muito a alcançar o meu sonho. Escola bilíngue é a melhor coisa que existe – disse a estudante.
As primeiras unidades a serem beneficiadas com o projeto bilíngue foram a Afonso Várzea, no Complexo do Alemão, e o CIEP Glauber Rocha, na Pavuna. Das 10 unidades da rede municipal, nove tem o ensino bilíngue do idioma inglês e uma do espanhol. Todas funcionam em horário integral, dando a cerca de 4.500 alunos, da pré-escola até o 6º Ano, a oportunidade de vivenciarem novos horizontes. A ideia da Secretaria Municipal de Educação (SME) é que se tenha uma escola bilíngue em cada Coordenadoria Regional de Educação (CRE). Atualmente, só a 4ª, que compreende os bairros de Cordovil, Bonsucesso, Freguesia, Maré, Olaria, Manguinhos, Vigário Geral, Brás de Pina, Benfica, Jardim América e Parada de Lucas, ainda não possui uma unidade de ensino bilíngue.
Professora de inglês e coordenadora pedagógica do projeto na Afonso Várzea, Gláucia da Silva Morais Acioli de Lima, de 29 anos, conhece bem a realidade dos alunos da escola, localizada no Complexo do Alemão. Ex-moradora da comunidade, ela diz que muitos deles não conseguiam vislumbrar a possibilidade de aprender uma língua além de seu idioma materno, pelo fato de a família não ter condições de pagar por um bom curso de inglês. Com a chegada do ensino bilíngue na escola, ela viu essa realidade mudar:
– A comunidade abraçou essa mudança. Foi um ganho muito grande para a gente ver o processo acontecer, desde a transformação visual da escola à mudança no comportamento dos alunos. Mesmo sabendo que a realidade deles não segue um padrão, buscamos com o tempo adaptar o ensinamento. As escolas bilíngues representaram um ganho imenso para aquelas famílias que não têm condições de pagar por um curso. Agora, a poucos metros de suas casas, há uma escola que pode dar o melhor para os seus filhos. E o mais gostoso disso é que os pais nos procuram para perguntar o que podem fazer em casa para que seus filhos obtenham bons resultados na prova de Cambridge.
A coordenadora se refere ao exame anual da universidade inglesa, que avalia, por meio de prova escrita e oral, o nível de proficiência de 1.200 alunos dos 5º e 6º anos das escolas bilíngues, unidades tradicionais, Ginásios Olímpicos Experimentais e dos Ginásios Cariocas. A participação dos estudantes da rede municipal na tradicional avaliação de Cambridge é uma das ações do Programa Rio Criança Global, e, até hoje, 3.600 estudantes de 16 unidades foram certificados desde o início da premiação, em 2014.
De acordo com Gláucia, a receptividade dos alunos a um idioma, até então estranho para eles, não poderia ter sido melhor, especialmente entre os mais novos. Um dos destaques da escola é o pequeno Wendel de Souza Freire, de seis anos, aluno do 1º Ano da Afonso Várzea. Por sua facilidade em aprender o idioma, foi escolhido pela professora para ser um dos monitores da sua turma. Poder ajudar os amiguinhos é uma das coisas que ele mais gosta de fazer.
– Gosto mesmo de inglês. Já aprendi a falar nomes de animais, frutas e de pessoas da família. Minha turma já escutou músicas muito legais também. Quando algum colega não consegue entender, eu ajudo. Uma vez, na minha casa, assisti um filme em inglês e consegui entender algumas coisas. Fiquei muito feliz.
A Escola Municipal Professor Afonso Várzea se tornou bilíngue em 2013, e, desde então, é uma das referências da rede municipal de ensino em inglês. Com 550 alunos, a escola atende a estudantes do Ensino Infantil ao 5º Ano Fundamental, incluindo duas classes especiais, totalizando 20 turmas.
– O projeto, de fato, veio para somar – disse a diretora da unidade, Ana Patrícia Capuano Leal.
Não tão longe dali, na Ilha do Governador, a Escola Municipal Holanda é a única do município a lecionar em espanhol. Situada no Jardim Carioca, a unidade, que possui 421 alunos – da Educação Infantil ao 6º Ano Experimental (quando os alunos têm um professor para todas as disciplinas) -, comemora o sucesso que o ensino do idioma está fazendo junto aos alunos, ainda mais motivados a frequentar as salas de aula. A escola conta hoje com seis professores de espanhol.
– Adoramos a proposta. Além das crianças terem entrado no clima hispânico, nos cumprimentando o tempo todo em espanhol, há muita integração entre os professores, sempre interessados em trazer atividades novas para suas turmas. Sentimos, em cada uma delas, que os alunos realmente gostam de aprender o espanhol. Estamos falando de uma cidade que constantemente recebe grandes eventos. Saber se comunicar em dois idiomas é essencial – falou a diretora da unidade da Ilha, Regina Helena Amarante.
Além de ser bilíngue em espanhol, a escola da Ilha também oferece o inglês em sua grade curricular. Para a professora Melissa Coutinho Moreira, de 39 anos, que há três leciona espanhol na escola da Ilha, o ensino de uma língua estrangeira é a melhor ferramenta que existe para que crianças e jovens acessem novas culturas e conhecimentos:
– O ensino de qualquer língua estrangeira é importante, não apenas o de espanhol. Ele abre portas para novas culturas e conhecimentos, além de diversas oportunidades, seja de trabalho ou simplesmente de interação. Os alunos gostam muito do projeto e talvez eles não tivessem essa mesma possibilidade em outros lugares. Por isso, esses meninos valorizam essa chance, além de se sentirem valorizados também. É muito bom poder colaborar com o futuro deles.
Aos 14 anos, Maryane da Silva Santos, moradora do Morro do Dendê, está no 5º Ano da Escola Municipal Holanda e vê o ensino bilíngue como uma oportunidade de se especializar melhor na carreira que escolher. Ela ainda não sabe se quer ser médica ou veterinária, mas afirma que o conhecimento de uma língua estrangeira a ajudará muito:
– Saber falar espanhol vai me ajudar em tudo, principalmente nos estudos. Quero me especializar em outros países e saber falar o idioma será importante. Acho que serei ainda mais útil em minha carreira, ajudarei muito mais as pessoas, se eu for capaz de me comunicar em outra língua. Por isso estou me dedicando muito.
Assim como Maryane, o menino Gabriel Arcanjo de Souza, de 11 anos, estudante da mesma turma, espera poder utilizar o aprendizado nos campos de futebol da Espanha. Também morador do Dendê, sonha se tornar um jogador de sucesso e brilhar no Barcelona, tal como seu ídolo Messi.
– Jogadores de futebol viajam muito, trocam de clube. Como quero seguir essa carreira, preciso estar preparado para me comunicar em outros idiomas além do português. Estou gostando muito de aprender espanhol. Meu ídolo é o Messi e sonho jogar no Barcelona – disse Gabriel.
O start para emplacar, em 2013, o projeto das escolas bilíngues no município, deu-se, em 2009, com o Programa Rio Criança Global, que tinha como meta estender e intensificar o ensino do inglês na rede municipal. Primeiro veio a inclusão de dois tempos semanais do idioma na grade, para os alunos do 1º ao 9º Ano, e quatro anos depois, há, então, transformação de algumas escolas em unidades bilíngues, com turmas da pré-escola até o 6º Ano.
As unidades da prefeitura com ensino bilíngue estão localizadas no Complexo do Alemão (Escola Municipal Professor Afonso Várzea), Pavuna (CIEP Glauber Rocha), Jacarepaguá (Escola Municipal Dyla Sylvia de Sá), Campo Grande (CIEP Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda), Ilha do Governador (Escola Municipal Holanda), Humaitá (Ciep Presidente Agostinho Neto), São Cristóvão (Escola Municipal Mestre Waldomiro), Padre Miguel (Escola Municipal Mestre André), Marechal Hermes (CIEP Augusto Pinheiro de Carvalho) e em Santa Cruz (Escola Municipal Professora Zulmira Telles da Costa).
Professora de inglês e coordenadora pedagógica do projeto na Afonso Várzea, Gláucia da Silva Morais Acioli de Lima, de 29 anos, conhece bem a realidade dos alunos da escola, localizada no Complexo do Alemão. Ex-moradora da comunidade, ela diz que muitos deles não conseguiam vislumbrar a possibilidade de aprender uma língua além de seu idioma materno, pelo fato de a família não ter condições de pagar por um bom curso de inglês. Com a chegada do ensino bilíngue na escola, ela viu essa realidade mudar:
– A comunidade abraçou essa mudança. Foi um ganho muito grande para a gente ver o processo acontecer, desde a transformação visual da escola à mudança no comportamento dos alunos. Mesmo sabendo que a realidade deles não segue um padrão, buscamos com o tempo adaptar o ensinamento. As escolas bilíngues representaram um ganho imenso para aquelas famílias que não têm condições de pagar por um curso. Agora, a poucos metros de suas casas, há uma escola que pode dar o melhor para os seus filhos. E o mais gostoso disso é que os pais nos procuram para perguntar o que podem fazer em casa para que seus filhos obtenham bons resultados na prova de Cambridge.
A coordenadora se refere ao exame anual da universidade inglesa, que avalia, por meio de prova escrita e oral, o nível de proficiência de 1.200 alunos dos 5º e 6º anos das escolas bilíngues, unidades tradicionais, Ginásios Olímpicos Experimentais e dos Ginásios Cariocas. A participação dos estudantes da rede municipal na tradicional avaliação de Cambridge é uma das ações do Programa Rio Criança Global, e, até hoje, 3.600 estudantes de 16 unidades foram certificados desde o início da premiação, em 2014.
Fonte: Prefeitura.rio