Ricson Allan, de 23 anos, é um jovem sorridente e carismático que há oito anos encontrou no esporte uma maneira de golpear e deixar de lado os obstáculos causados pelo autismo. A dificuldade de integração social, falta de atenção e pouca habilidade motora foram superados com a ajuda de um professor de Jiu-Jitsu de Santos , no litoral de São Paulo.
A relação de amizade dentro do tatame conquistada dia a dia também se transformou em um aprendizado para o lutador Anderson ‘Toca’, que nunca havia trabalhado com um aluno especial antes. O site acompanhou um dia de treinamento do jovem que hoje é faixa marrom na modalidade e sonha em ganhar uma medalha em paralimpíada. Para isso, ele espera que em breve o Jiu-Jitsu se torne um esporte Olímpico.
“Lembro quando Ricson chegou para a primeira aula. O dono da academia me procurou desesperado dizendo que tinha uma pessoa para fazer aula que era ‘louca’ e que daria problema”, recorda.
“Quando entrei no tatame, os alunos vieram me cumprimentar como era de praxe, mas vi um garoto sozinho de pé encostado na parede com sua cabeça baixa evitando me olhar nos olhos. Vi seu nervosismo na linguagem corporal inquietante. Perguntei o nome e ele me respondeu sorrateiramente balançando a cabeça várias vezes e falando seu nome três vezes”, descreve o lutador.
O professor também perguntou se o garoto gostaria de treinar Jiu-Jitsu e a resposta veio rápida da mesma maneira. “Depois pedi para ele acompanhar o pessoal na corrida. Desengonçado e com pouquíssima habilidade motora, tentava, mesmo que todo atrapalhado, fazer as posições ensinadas com muito esforço e nada de atenção. Notei que precisaria individualizar a aula e dar uma atenção especial a ele”, acrescentou.
A dedicação era mais do que necessária, já que Ricson apresenta problemas mentais, mas a família não tem um laudo conclusivo sobre os distúrbios dele. “Ele tem um retardo mental com idade cronológica que não bate com a mental e dislexia severa. É tão severa que ele não consegue aprender a ler nem escrever, além de uma porcentagem leve de autismo”, revela a mãe Viviane Gonçalves.
Apesar de todas as dificuldades e da luta diária, Ricson destaca o que de mais importante o esporte lhe ensinou. “A disciplina. Eu gosto tanto de treinar que às vezes durmo até de kimono [uniforme para prática de artes marciais]. Tem que ter muita disciplina”, comenta o esportista que treina religiosamente três vezes por semana.
O professor confirma o empenho do aluno. Segundo ele, Ricson nunca atrasou a mensalidade e só faltou à aula por viagem ou problema de saúde.
“Ele é sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Quando acabamos de dar um róla [treino], ele dá uns beijos na minha cabeça e diz que me ama. Mais do que isso, o Jiu-Jitsu trouxe para ele um convívio social, uma melhora na postura e até na maneira de se vestir. O crescimento dele é um exemplo de superação e compromisso”, destaca.
Fonte: Jornal Floripa